sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Origami

A personagem dessa história é uma menininha. Pequeneninha, fofinha, cabelo chanel e botinhas vermelhas.Ela ainda não sabe, mas quando crescer será paranóica, obessiva e auto-destrutiva. Mas por enquanto é só uma menininha. Ela gosta de se considerar forte, por isso não chora nunca, não importa o que aconteça. Chorar é coisa de criança. Ela não chorou quando seu coelhinho morreu (como toda menininha, ela tinha um coelhinho), não chora quando se machuca, não chora quando brigam com ela. Ela suporta tudo e às vezes se esquece que é só uma menininha.Ela anda por uma paisagem ampla, cheia de sol, árvores e lagos. Conforme caminha ela vai crescendo, lentamente, como numa daquelas animações pintadas com lápis de cor. E porque está crescendo, não se importa mais que chorar seja coisa de criança. Mas ainda gosta de se considerar forte. Por isso nunca chora. E engole todas as tristezas, que vão se acumulando dentro dela e deixando-a amarga e triste. Ela não chora, nunca, mas também já não ri. A menina caminha sem rumo pela paisagem, sua vida parece estar envolta numa melancólica monotonia.Um dia ela ouve ao longe um som como de papel sendo remexido, como se muitos jornais estivessem sendo abertos ao mesmo tempo. O som vai crescendo, se aproximando, ela procura sua origem mas não encontra. Então a menina olha pro alto e vê milhares de tsurus cortando o céu em alta velocidade. Eles voam numa bela e estranha formação flúida, dão voltas, sobem, descem, batendo alegremente suas minúsculas asinhas. Os cantos dos lábios da menina se curvam numa rara demonstração de uma rara alegria.Mas então, só porque ela sorriu, começa a chover. E os pássaros de papel molham e se despedaçam com a chuva. Agora ela vai chorar, eu penso, e dou um sorriso sádico.E ela chora. Só que seu choro é quase imperceptível, pois suas lágrimas se misturam com a chuva. Que fazer agora? Ela recolhe o que sobrou dos pássaros um a um, e com seus corpos mortos faz papier mâché.

Tsuru: http://www.youtube.com/watch?v=3iVP0tzwhVc

Fonte: http://anachronismos.blogspot.com/2007/10/origami.html

domingo, 5 de outubro de 2008

"Edward Schïneter, encontrado morto no terraço do banco municipal nesta manhã de quinta-feira. Não temos maiores detalhes sobre a morte, mas acredita-se que o caro sr. Shïneter sucidou-se com uma facada próxima ao coração.", após ler esse escrito no jornal local reclinei a poltrona a um ângulo de 45º, acendi um Don Felo e após duas ou três tragadas cai em pensamento profundo.
Edward Schïneter era um homem mais velho, acredito que já estava indo para casa dos sessenta, porém estava em perfeita forma física, era dono do banco municipal de Grünstadt -oh! mas que ironia do destino, morrer no terraço de seu próprio banco - viajava a negócios a cada intervelo de quase 2 semanas, não ficava muito tempo pela a cidade e quando ficava em Grünstadt sempre carregava uma pasta de couro preta consigo, andava de modo elegante e possuia trajes finos. Não possuia filhos e também não era casado, acredito que sua ambição por dinheiro o privava de momentos íntimos. Não frequentava outros lugares a não ser o banco, sua casa e um barzinho meia boca no final da esquina da rua Kreuzer Weg.
Perdão caros leitores, receio que hoje não poderei me apresentar a vocês, infelizmente por ser nossa primeira apresentação não acredito que deveria confiar em vocês para dizer minha identidade, porém se estão curiosos podem me chamar de 'D', se assim os confortarem. Estou ansioso para o nosso próximo encontro.